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Brasil vive contraste entre avanço de mercado fitness e da obesidade

 

 

O jornal Valor Econômico publicou na quarta-feira, dia 3 de julho, uma matéria no caderno de Saúde sob o título “Brasil vive contraste entre avanço de mercado fitness e da obesidade”. Uma das questões que a reportagem aponta é que a atividade física ganha espaço na vida social, mas não reverte aumento da obesidade. Abaixo, a íntegra da matéria.

Custo maior de estilo de vida saudável, em oposição a alimentos ultraprocessados, e rotina estressante são alguns dos desafios para brasileiro priorizar mudança de hábitos.

O universo da saúde física no Brasil, hoje, conta duas histórias que caminham paralelamente e forma contraditória. De um lado, o mercado fitness cresce com a proliferação de academias de ginástica e produtos com selos saudáveis junto com um notável aumento de pessoas em parques e locais públicos praticando atividades esportivas. Do outro, dados oficiais mostrando crescimento contínuo das taxas de sobrepeso e obesidade entre brasileiros – tanto em adultos quanto em crianças e adolescentes.

Segundo levantamento da Ponto Map, agência de análise e inteligência de dados, o mercado de bem-estar no Brasil movimentou US$ 95,5 bilhões (R$ 489 bilhões) em 2022, de acordo com dados do Global Welness Institute e do Fundo Monetário Internacional (FMI), sendo o 12º maior do mundo e com projeção de que em 2027 vai para US$ 127 bilhões. Contudo, quando analisado em relação ao PIB do Brasil, a projeção de crescimento é praticamente zero (ver quadro abaixo).

 

 

Segundo os especialistas ouvidos pelo Valor, é um dos indícios de que o engajamento real do brasileiro com a saúde física permanece dentro de uma bolha que, apesar de ter ganhado exposição com as redes sociais, é furada por períodos apenas temporários.

 

“Há, de fato, um crescimento importante desse mercado e da adesão das pessoas às práticas esportivas, mas ainda é uma parte pequena da nossa população que aderiu de verdade e consegue ter uma alimentação saudável, por exemplo”, observa a CEO da Ponto Map, Giovanna Massullo. “É um mercado com grande potencial de crescimento justamente porque ainda é uma parcela pequena da população que consegue aderir.”

 

O levantamento da Ponto Map detectou que nas discussões sobre saúde física nas redes sociais, o estilo de vida fitness é o que gera mais engajamento, notado em 64,7% das manifestações mapeadas, seguido por alimentação de qualidade (22,3%) e prática de esporte (9%). Mas, quando comparado a outros temas macro que movimentam os debates, a saúde física atrai somente 5,39% dos usuários, ficando em oitavo lugar e atrás de assuntos diversos como meio ambiente, manifestações culturais, segurança e religião.

Massulo aponta que, apesar do crescimento expressivo do mercado fitness no país, há várias razões que explicam por que a população, no geral, está mais propensa a ter problemas de saúde por causa da obesidade do que a desfrutar dos benefícios de um estilo de vida saudável. “Uma delas é a questão da acessibilidade. Os alimentos ultraprocessados têm um custo melhor, enquanto a alimentação natural, com alimentos frescos, tem um custo maior. A maioria das famílias brasileiras acaba optando pelos ultraprocessados”, diz.

 

 

Além disso, ela destaca a dificuldade da grande maioria das pessoas de inserir a prática esportiva e a alimentação saudável na rotina. “É complicado quando a pessoa tem que trabalhar, às vezes conciliando com estudos. Sem falar que nas grandes cidades se perde muito tempo em trânsito”.

Ainda assim, os dados apurados pela Ponto Map sinalizam que ao menos a preocupação com a saúde física, estimulados ou não pela prioridade com a estética, engaja todas as gerações de adultos no país, principalmente a chamada geração Y ou millenials, com idade entre 27 e 42 anos.


Na mesma linha, o diretor do serviço de medicina do exercício e do esporte do
Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), Samir Daher, explica que são quatro elementos conjuntos que precisam ser seguidos para que, coletivamente, os riscos gerados pelo excesso de peso na população sejam mitigados. “Saúde física, saúde mental, sono e hábitos alimentares”, diz. “Se um deles está muito alterado, há grandes chances de os outros também estarem.”

Segundo Daher, esses quatro elementos precisam estar equilibrados para que haja uma adesão permanente a um estilo de vida saudável. “Percebemos aqui no atendimento que muita gente adere à prática esportiva ou mudança alimentar no ímpeto, mas a manutenção acaba se dissipando. Aproximadamente 35% dos pacientes continuam, mas 65% desistem no meio do caminhorevela, acrescentando que a falta de entendimento sobre a comunhão entre os quatro elementos é a chave do sucesso.


O médico critica a falta de políticas públicas que chamem a atenção para combater o problema, que está se agravando continuamente desde o início do século atual. De acordo com dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, a proporção de adultos no Brasil com sobrepeso ou obesidade saltou de 11,8%, em 2006, para 24,3%, em 2022.

Outro estudo do pesquisador Eduardo Nilson, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), projeta que, com base nas tendências atuais, quase metade dos adultos brasileiros (48%) terá obesidade até 2044, e mais 27% terão sobrepeso – assim, dentro de 20 anos, três quartos dos adultos terão obesidade ou sobrepeso – a projeção foi apresentada na semana passada no Congresso Internacional sobre Obesidade, em São Paulo.

Se o cenário se concretizar, as consequências mais óbvias serão o aumento de ocorrências como doenças cardiovasculares, diabetes e doenças renais crônicas, por exemplo. Estimativa de especialistas em saúde pública da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já aponta que, no grau em que está avançando, a taxa de sobrepeso e obesidade no país deve gerar um custo de aproximadamente US$ 20,1 bilhões (R$ 105,4 bilhões) para a economia brasileira como um todo, juntando os custos diretos de tratamentos para o SUS e a queda de produtividade em decorrência das doenças.

“Estamos com políticas públicas insuficientes para atacar esse problema”, diz Daher, do HSPE. Ele cita o programa Academia da Saúde, lançado pelo governo federal em 2011, como uma boa iniciativa, mas aponta a dificuldade de manutenção do programa e o baixo impacto como falhas. “Precisamos de campanhas educativas permanentes que engajem mais a população.”

Outra sugestão do médico especializado em medicina esportiva é conectar os hospitais com os locais onde pacientes podem realizar atividade para permitir um acompanhamento dos resultados de emagrecimento dos pacientes. “Estamos levando uma proposta para o governo do Estado para credenciar locais junto ao sistema de saúde para encaminhar os pacientes. Porque a gente diagnostica e orienta o que precisa fazer, mas não temos acompanhamento para saber se a pessoa está seguindo. É uma dificuldade que o sistema tem de se conectar com o mercado fitness”.

 

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