A entrevista a seguir foi feita pela equipe da Revista ACAD Brasil publicada este mês. Para quem ainda não conferiu esta e outras matérias sobre o setor de fitness, saúde e bem-estar, não deixe de conferir: clique aqui e acesse a íntegra da edição 110.
Professora universitária, empreendedora, médica e educadora física, Clarissa Rios foi jogadora profissional de basquete até os 23 anos, quando foi diagnosticada com um tumor ósseo no fêmur e ouviu a sentença do médico: “essa menina nunca mais vai jogar”. Na época, Clarissa estava terminando o mestrado em Educação Física e, muito abalada com sua própria condição, decidiu que também se formaria em Medicina com um único objetivo: “eu vou cuidar das pessoas para que todas elas possam treinar, mesmo que tenham algum problema de saúde”. Clarissa é autora do livro “O que você precisa saber para emagrecer?”, criou a franquia de academias DoctorFit, está à frente de um Instituto que leva o seu nome e trabalha com longevidade e medicina preventiva, além de ser membro da Sociedade Brasileira de Medicina da Obesidade – SBEMO.
O quanto foi importante para sua visão como médica ter se formado como educadora física?
Eu não seria a médica que eu sou hoje se não tivesse me formado primeiro em Educação Física, porque esta é uma faculdade que prepara a gente para prevenir que as pessoas fiquem doentes. É uma disciplina muito forte na questão da prevenção e cuidados básicos com a saúde – estilo de vida saudável, exercício físico, alimentação, sono, rotinas mais organizadas e menos estressantes. Infelizmente, nada disso a gente aprende no curso de Medicina. A gente aprende a vivenciar tudo isso, inclusive com o nosso próprio corpo, na Educação Física.
Defender atividade física como “medicamento”, ainda que não seja novidade, parece algo revolucionário. A sociedade está preparada para essa virada de chave?
Essa é uma prerrogativa do American College of Sports Medicine, que já começou essa campanha há mais de 30 anos, desde quando eu estudava Educação Física, a gente já falava sobre essa dobradinha exercício e medicina. A gente sabe que a sociedade vai demorar um tempo ainda para conseguir internalizar que o movimento físico faz parte da nossa vida e que se as pessoas que se movimentam mais, vivem mais e com menos doenças. Não existe remédio hoje disponível pela Medicina que seja capaz de gerar as adaptações metabólicas que o exercício físico é capaz de fazer. Acredito, sim, que a sociedade ainda vai demorar mais alguns anos para entender que o diferencial do envelhecimento está na prática regular do exercício físico.
Sua experiência nos Estados Unidos com atletas de alto rendimento lhe mostrou que havia um caminho diferente para treinar as pessoas em academias. Que caminho é esse?
A experiência que eu tive nos Estados Unidos foi fundamental para criar a franquia DoctorFit, que é baseada no treinamento sem máquinas, buscando entender que o condicionamento físico se dá em pequenas sessões de treinamento com intensidades mais elevadas. Se os atletas de alto rendimento conseguem ter resultados nesse tipo de treinamento, as pessoas que não são atletas também podem conseguir, com um treino mais rápido e intenso, o que desejam em termos de saúde, condicionamento físico, emagrecimento etc. O segredo é menos tempo e mais intensidade e maior frequência. Essa foi a grande virada de chave e há treze anos é isso que oferecemos.
Como é o modelo de negócios da academia DoctorFit e quais são os números da franquia?
Hoje, a franquia DoctorFit tem mais de 5 mil clientes. São 54 unidades em funcionamento, 13 em processo de abertura e mais 28 unidades vendidas. Nosso modelo de negócios é baseado em pequenas academias, onde cada personal trainer atende no máximo três clientes simultaneamente e a personalização do treino é realizada por um sistema gerenciado por mim e criado a partir dos conhecimentos da Educação Física e da Medicina. Nosso grande diferencial é que o exercício físico que prescrevemos atende a todos os públicos de qualquer idade e condicionamento físico – desde gestantes até idosos.
Qual o objetivo do instituto que leva o seu nome e o que a longevidade representa para a sociedade atual?
O Instituto Clarissa Rios foi criado não só para colocar em prática todo o conhecimento da Educação Física e da Medicina Esportiva, mas também como um espaço onde a gente treina pessoas da área da Saúde para que elas ofereçam um tratamento diferenciado. O tratamento convencional, que os profissionais da Saúde aprendem na faculdade, é buscado no CID (Classificação Internacional de Doenças) e é baseado em tratar a doença. Nossa proposta é orientar as pessoas para que elas consigam evitar certas doenças, prevenir alguns sintomas e ter um envelhecimento mais saudável. O fitness com certeza será pautado pela longevidade, porque as pessoas estão cada vez mais longevas, não só devido à evolução da Medicina, mas também ao investimento que as pessoas têm feito em uma alimentação mais saudável, em ajustes na rotina e em praticar exercício físico de forma regular. Eu acredito, sim, que o fitness e a Medicina Preventiva já estão pautados na projeção de uma vida mais longa e simples.