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Médico neurocientista fala sobre bem-estar na Revista ACAD Brasil

 

Na próxima semana, nos primeiros dias de agosto, será lançada a edição 106 da Revista ACAD Brasil. Entre temas pertinentes ao mercado, como nichos e oportunidades para academias, um dos destaques da edição é a entrevista com o Dr. Jô Furlan, médico, nutrólogo e neurocientista, criador da metodologia “Inteligência Comportamental”, autor de dez livros. Furlan é um entusiasta do setor de fitness e diz que o bem-estar mudou sua vida!  Confira, a seguir, um trecho da entrevista que o médico concedeu à equipe da Revista ACAD Brasil.

A visão sobre atividade física, saúde e bem-estar tem mudado?

Sim, só que mais lentamente do que a sociedade precisaria. Hoje, os planos de saúde já discutem a possibilidade de conceder descontos àquelas pessoas que praticam atividade física regularmente. Especialmente as pessoas que atuam na área de saúde precisam olhar para o bem-estar e para a importância do efeito terapêutico da atividade física, tanto para o benefício da prevenção, como de tratamento.  O movimento é terapêutico para o corpo e para a mente. Tenho pacientes que consigo melhorar o quadro de pré-diabetes em poucos meses, corrigindo a alimentação, sem nada radical, e com atividade física moderada. Biologicamente o nosso corpo precisa do movimento, não somos seres sedentários por natureza, isso é algo recente e o sedentarismo gerou a obesidade. 

Como médico, tenho muita esperança na humanidade e acredito verdadeiramente que precisamos ajudar as pessoas a colocar o bem-estar como prioridade de suas vidas. Eu cheguei à obesidade mórbida, com 147 quilos, pago um preço alto por isso, porque o impacto dos anos que eu não me cuidei cobra um preço. Hoje, peso 92 porque escolhi o caminho do bem-estar. 

Por que a classe médica, ainda que ciente de que a atividade física é um dos caminhos da prevenção, não prescreve exercícios para seus pacientes? 

Eu me formei em Medicina há 31 anos e até hoje, no curso de formação, não há uma cadeira de nutrologia, de bem-estar ou qualquer uma que valorize a importância da atividade física. Como é possível educar um médico assim? Arraial d’Ajuda tem 32 mil habitantes, três faculdades de Medicina e nenhum dos cursos olha para a atividade física e a nutrição como ferramentas terapêuticas. Não há uma formação médica com esse viés. É assustador, por que como falar de prevenção? O médico precisa entender a importância do movimento para a saúde. Movimento é vida! 

A Medicina não valoriza a atividade física e a nutrição como ferramentas terapêuticas. A formação médica não é voltada para o bem-estar, mas sim para o tratamento de doenças. Virar essa chave mudaria tudo e teríamos uma sociedade mais saudável, uma sociedade preventiva. O paciente vai ao ginecologista ou no cardiologista, diz que está ansioso e o médico prescreve um antidepressivo, sem antes recomendar atividade física e psicoterapia. Ele não recomenda uma estratégia para uma gestão de vida. Só prescreve remédio, não olha para um tratamento mais integral. O médico, o educador físico, o nutricionista, todos os profissionais envolvidos com saúde precisam ser ferramentas do bem-estar.

A expectativa de vida aumentou, especialmente a do brasileiro. O país está preparado para cuidar da longevidade para ter pessoas ativas após os 60 anos?

Em 1900, a expectativa de vida no Brasil era de 29 anos, nos Estados Unidos de 49 anos. Em 2023, esses números saltaram para 77 e 79 anos, respectivamente. Há 120 anos, a diferença entre os dois país era de duas décadas… hoje é de dois anos. Então, o cenário tem mudado e nós precisamos acompanhá-lo. 

Eu defendo a “Teoria dos 3 As”, que foi tema da minha palestra no Arnold Sports, em abril deste ano, e nada mais é do que Atividade Mental-Cerebral, Atividade Física e Atividade Nutricional. Essas três atividades são determinantes para a longevidade — há quem diga que falta a espiritualidade, mas sim, está considerada dentro de mental-cerebral. O homem é o que ele pensa, com o que ele se alimenta e o que ele faz. O bem-estar é o topo da pirâmide. 

O que a sociedade precisa fazer para avançar nessa questão e colocar em prática os pilares do bem-estar e da verdadeira saúde?

A sociedade domina esse conceito. Nós sabemos o que é mais ou menos saudável. O desafio é como ajudar as pessoas a, de fato, escolherem o bem-estar.  O quanto, em uma escola ou na universidade, se fala “você pode ser mais saudável”? O quanto as academias recebem seus alunos e dizem: “bem-vindo! Independentemente do seu objetivo, aqui a gente vai ajudar você a ser mais saudável”? Quando é que você foi ao hospital e ao sair o médico lhe recomendou: “procure fazer atividade física”?

“É melhor prevenir do que remediar” só fica no ditado. Nós não somos uma sociedade da prevenção, nem a nossa Medicina é preventiva. Na faculdade, quando se fala em medicina preventiva a discussão é sobre modelo de saúde pública e não sobre como ajudar as pessoas a evitar as doenças. Por que o profissional de Educação Física não pode ter uma interface com o médico para que os dois possam recomendar a prática da atividade física como um dos mais fortes pilares da saúde? Não vejo que isso o que eu digo tenha eco no Conselho de Medicina ou sequer entre boa parte dos meus colegas médicos.  Há cada vez mais cursos de Medicina e cada vez mais médicos formados. Mas que formação é essa que estamos promovendo?

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