Sócia e diretora da Companhia Athletica, diretora da ACAD Brasil, Monica Marques tem ampla experiência no mercado internacional de fitness, tendo representado o Brasil e a América Latina como membro do conselho de entidades de classe, entre as quais a IHRSA e a World Active. Como empresária, gestora, palestrante e entusiasta deste mercado, Monica acompanha de perto pesquisas, estudos, tendências e o que aparecer de mais recente sobre fitness, saúde e bem-estar, aqui e no mundo. Uma das temáticas que serão abordadas na próxima edição da Revista ACAD Brasil é a obesidade e a relação com a inatividade física. Sobre o assunto, a especialista adianta pontos cruciais.
Recente pesquisa da Fiocruz faz uma projeção alarmante: 48% dos adultos no Brasil terão obesidade, até 2044, e outros 27% terão sobrepeso. Ou seja 75% da população estará fora do peso considerado saudável. O que as academias podem fazer, a partir de agora, para mudar esse cenário em 20 anos?
A atividade física promove uma série de alterações fisiológicas e metabólicas no organismo, que não só ajudam a perder peso como ajudam a diminuir ou evitar os processos que levam ao diabetes e à dislipidemia. A inatividade física é um hábito que a maioria das pessoas considera muito difícil de mudar, e as academias oferecem o ambiente e os profissionais especializados em promover saúde física e mental através do exercício. As pessoas sedentárias, em geral, têm dificuldade em praticar esportes competitivos, pois a falta de condicionamento físico ou de habilidades motoras pode ser um fator adicional de constrangimento. Nas academias há muitas modalidades não competitivas, que não requerem habilidades motoras especiais ou específicas, que são praticadas em grupo em um ambiente altamente motivador e divertido. Por isso as academias são grandes aliadas da promoção de saúde.
Uma das consequências do aumento de casos de obesidade é o aumento das cargas epidemiológica (mais doenças) e econômica (custo da saúde pública). Que ações de políticas públicas poderiam contribuir para combater a inatividade e diminuir casos de sobrepeso?
A obesidade não só aumenta a incidência de diabetes, hipertensão e dislipidemia, como também é, por si só, uma comorbidade que agrava o risco de mortalidade em uma série de outras doenças. A epidemia de Covid-19 mostrou isso claramente. As doenças crônicas custam muito mais caro do que as doenças agudas, pois se estendem por muitos anos e em vários casos, para o resto da vida. A despesa pública com estas doenças hoje é imensa, e só irá aumentar caso a inatividade física e a obesidade continuem avançando. Todas as políticas públicas devem se alinhar no sentido de diminuir barreiras e custos para a prática de atividades físicas. Existem barreiras de burocracia (excesso de regulamentação, atestados, exames etc.), barreiras tributárias e muitas outras. Apenas para dar um exemplo, se o governo entende que tabaco e álcool devem pagar mais impostos porque trazem mais doenças e despesas para a saúde pública, todas as atividades físicas deveriam ter isenção (como os remédios) ou alíquotas reduzidas. A Organização Mundial da Saúde – OMS já mostrou que para cada dólar investido em atividade física há um teto de 2,8 dólares em economia para a saúde.
Há exemplos de outros países quanto a ações eficientes de combate à inatividade?
Sim, há muitos países europeus que têm isenção do VAT (value added tax, correspondente ao IVA que o Brasil pretende implantar) ou alíquotas reduzidas para as atividades físicas. E nos países onde os impostos são menores há menos sedentarismo, pois o acesso é mais barato e, portanto, mais fácil.
Por que é tão difícil tirar as pessoas do sofá? O que pode ser feito?
Existem vários fatores que levam as pessoas ao sedentarismo: familiares, culturais, ambientais, financeiros. Se a família pratica exercícios regularmente, a criança entende que a prática é prazerosa e se torna um hábito. Se a pessoa se sente segura para caminhar, correr ou pedalar na rua, ela poderá começar a se exercitar desta forma no lazer ou indo para o trabalho. A questão financeira é dúbia. Em países mais pobres as pessoas não têm dinheiro para pagar por uma aula de esportes ou academia, mas caminham mais para ir ao trabalho. Em países mais ricos, mais pessoas andam de carro e mais crianças jogam videogames por mais horas durante o dia. No Brasil, hoje, existem opções de academias em todas as faixas de preços, desde as mais baratas até as mais sofisticadas. Mas, considerando que mais de 50% dos brasileiros ainda se encontram no sedentarismo e que o investimento governamental para diminuir isso sozinho seria gigantesco e impagável, a melhor solução é criar todo tipo de incentivo para que as pessoas possam se exercitar não apenas nos espaços e equipamentos públicos, mas também para que o setor privado possa contribuir cada vez mais e prosperar, trazendo benefícios para toda a sociedade.