Debate de primeira dentro da 24ª edição da IHRSA Fitness Brasil
Sob o tema “Indústria do fitness no Brasil e no mundo: panorama e análise”, Ailton Mendes, Edgard Corona, Monica Marques, Luiz Urquiza e Richard Bilton foram os debatedores de mais um Encontro Nacional ACAD Brasil, realizado no dia 17 de agosto, dentro da IHRSA FitBr 2023. Tradicionalmente, este encontro é um espaço de muita aprendizagem e networking. Desta vez, não foi diferente.
Entre os principais temas abordados estão: movimentos de combate ao sedentarismo em todo o mundo; os custos da inatividade para a saúde e a economia dos países; mercado financeiro de olho no setor brasileiro de fitness; conquistas da Associação e seus parceiros junto ao governo federal; inovações tecnológicas e seu impacto nos negócios de academias; o que esperar para o mercado nos próximos meses; Reforma Tributária e muito mais.
Combate ao Sedentarismo
Em 2018, a média global de sedentarismo entre os países era de 28% e o Brasil, com 47%, foi classificado como o 5º país mais sedentário do mundo. Esse alerta disparou uma série de ações na ACAD, entre as quais a criação do movimento Brasil + Ativo e a criação de uma forte agenda de atuação junto aos governos. Com a pandemia, o setor foi impedido de atuar e uma força-tarefa trabalhou incansavelmente para mostrar às autoridades governamentais que as academias são essenciais para a saúde da população.
“Em 2018, a Organização Mundial da Saúde criou um plano de combate mundial ao sedentarismo chamado GAPPA – Global Action Plan on Physical Activity e chamou pessoas e entidades da iniciativa privada e, também, do setor público, no mundo inteiro, para que houvesse uma participação maior na ajuda ao combate ao sedentarismo. Foi a partir deste movimento que várias iniciativas ganharam corpo, mundo afora, inclusive o nosso”, disse Monica Marques, sócia-diretora da Cia Athletica, diretora da ACAD Brasil e representante da América Latina na Federação Internacional World Active.
A Europe Active agrega entidades, de 29 países, que combatem o sedentarismo. Essa iniciativa já está trabalhando em cima da pauta da OMS para pessoas mais ativas, com mais frequência, em todos os lugares. A Federação Internacional World Active nasce do desejo de ampliar essa atuação. Assim, mais nações foram convidadas a participar e aqueles 29 países, hoje são 40. A ACAD Brasil foi convidada a fazer parte dessa força mundial, como representante da América Latina.
“Estamos trabalhando agora com uma pauta única de combate ao sedentarismo, no mundo inteiro. Vão ser criadas ações com as quais todas as entidades, em seus respectivos países, poderão atuar e isso dá muita força para o nosso projeto Brasil + Ativo. Começamos a enxergar de que maneira podemos influenciar mais pessoas e mais governos para que nos vejam como essenciais não só no Brasil, mas em todo o mundo”, disse Monica Marques.
O sedentarismo gera um custo absurdo para as empresas e os governos. Qual é o papel do setor de fitness, neste cenário?
“Segundo a OMS, para cada 1 dólar de investimento em atividade física, o setor público recebe um retorno de 2,8 dólares. No Brasil, a CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) das academias ainda é a de entretenimento e lazer. Um estudo contundente, de 2022, avaliou o impacto da atividade física no setor da saúde, com um mapeamento em 60 países, incluindo o Brasil. Este ano, a OMS ampliou o estudo para mais de 150 países e uma das recomendações é que os governos tenham práticas e políticas públicas especificas para incentivar a prática da atividade física. Aqui no Brasil, há poucos meses, a Lei Geral do Esporte foi reformulada e incluiu o termo “esporte para toda a vida”, que não é o de formação ou de alta performance, mas sim aquela prática feita nas academias, especialmente voltada à saúde da população. Isso é uma vitória do nosso setor”, concluiu Monica Marques.
Mercado financeiro de olho no setor de fitness
No primeiro semestre de 2023, o Ministério da Saúde publicou em Diário Oficial uma norma técnica que atesta que o setor de academias e dos profissionais de Educação Física é essencial por sua relevância na atenção primária da saúde e por sua importância no impacto à economia brasileira.
“A conquista deste reconhecimento pelo Ministério da Saúde é fruto de nossas reuniões com a ministra Nísia Lima e de todo o trabalho que a ACAD Brasil vem construindo em torno da comunicação de que somos um setor essencial para a saúde da população brasileira e para a economia do país e todo esse novo cenário é favorável a novas oportunidades. Nós empresários podemos estar distraídos quanto a essas oportunidades, mas o mercado financeiro está atento e já fazendo movimentos”, disse Ailton Mendes, presidente da ACAD Brasil.
Depois de tantos desafios, entre os quais fechamento de academias, retomada das atividades, economia em crise, quais são os sinais de que o mercado financeiro pode mesmo estar de olho no setor de fitness, saúde e bem-estar?
“Nós temos participado de rodadas de reuniões com representantes do mercado financeiro, interessados em saber mais sobre o setor nacional de fitness. Eles nos enxergam como um setor de oportunidades e, neste panorama, aqueles gestores de academias que estiverem mais bem preparados poderão se beneficiar do que estar por vir, desse movimento anunciado do mercado financeiro”, acrescentou Ailton Mendes.
“Podemos considerar que todas as academias já estão nos níveis anteriores à pandemia, muitas delas com números superiores, e conquistou-se novamente a confiança do consumidor. Ainda temos desafios importantes como melhoria de renda, geração de empregos, queda de taxas de juros, reformas em andamento no Congresso, que são fatores externos que devem impulsionar o setor, a médio prazo. Como o mercado financeiro sempre se antecipa aos fatos, esse interesse pode sinalizar boas notícias e é possível que já no final de 2023, início de 24 o ambiente esteja muito mais propício aos negócios e à atração de novos investidores”, afirmou Luiz Urquiza, CEO da Bodytech Company e conselheiro da ACAD Brasil.
O mercado de academias vale mesmo um alto investimento? “Olhando para eventos, só em abril, a FIBO, na Alemanha, reuniu mais 130 mil pessoas, clientes usuários de academias. Em São Paulo, a Arnold South América teve 80 mil pessoas olhando para as práticas de musculação. Tem sim um mercado crescente, com um monte de oportunidades. Uma delas é a tal da ‘dor nas costas’, porque as pessoas passam horam sentadas nos escritórios e ter um serviço/produto estruturado só para tratar disso já é uma boa ideia”, disse Edgard Corona, vice-presidente da ACAD e CEO do grupo Bioritmo/SmartiFit.
Tecnologia pode garantir competitividade
Para Luiz Urquiza, as inovações tecnológicas devem moldar as próximas gerações de experiências e essas tecnologias já provocam impactos nas estratégias das empresas e no engajamento dos clientes.
“Essa aposta tecnológica é fundamental para garantir a competitividade das empresas. O digital está presente de alguma forma no comportamento do consumidor, seja por meio de um aplicativo para agendar uma aula até o uso de recursos da inteligência artificial e ChatGPT, com esses últimos permitindo que as academias avancem de forma escalonada para além dos serviços que oferecem.”
Segundo o empresário, o mercado já faz alguns usos dessas tecnologias em muitas academias, e algumas dessas ferramentas já são fundamentais para os negócios de fitness.
“A gameficação e tecnologias vestíveis já estão disseminadas nas academias. A WEB 3.0 é outra revolução. Aqui na empresa, o cliente não compra um plano, mas sim um ativo digital, que é uma maneira dele se comprometer com a própria saúde, a longo prazo. E ele pode comercializar esse ativo digital. O setor deve estar atento em como usar a tecnologia a favor dos negócios. A tecnologia não como substituto do fator humano, mas sim como aliada e ferramenta de competitividade mercadológica.”
Qual é o retrato do mercado nacional e a importância do associativismo?
Richard Bilton, presidente da Cia Athletica e conselheiro da ACAD Brasil, está na Associação há duas décadas e foi o primeiro brasileiro a ter assento no Conselho Internacional da IHRSA. “Uma das questões que mais me chamou a atenção na época foi justamente sobre as estatísticas. Enquanto os EUA tinham levantamento de tudo, por estado, cidades e até bairros, no Brasil tínhamos números chutados. O primeiro levantamento que fizemos aqui foi com a ajuda do CONFEF e com os dados dos CNPJ das academias oficialmente registradas. Ainda hoje, não conhecemos verdadeiramente o nosso mercado”
Edgard Corona faz coro quando o assunto é dado oficial e afirma que não existe um levantamento que comprove que o mercado brasileiro tem uma penetração de apenas 5%. “Isso foi um chute que virou verdade absoluta e que provavelmente não condiz com a realidade. O que é importante observar é que, nos Estados Unidos, onde calcula-se que a taxa de penetração é de 22%, a proporção é de 10 dólares sobre a renda do americano, o que é um custo irrisório. Na realidade do Brasil, para quem ganha salário-mínimo R$100,00 é muito dinheiro. Para gastar isso tudo, precisa virar prioridade. Eu sou esperançoso e acredito que o comportamento social, com os influencers postando seus treinos na musculação e mais jovens querendo treinar, esse mercado vai crescer, não para 22%, porque não somos a Suíça, mas vai crescer.”
Apesar de tantas dificuldades encontradas pelo setor, há uma compensação para quem trabalhado cuidando da saúde das pessoas, garante o vice-presidente da ACAD: “o Brasil tem uma questão cultural, foi acostumado a um desserviço, a ser maltratado no setor público, o que acabou norteando todo um comportamento da sociedade. A iniciativa privada traz uma diferenciação quanto ao atendimento, especialmente no nosso setor, em que cuidamos das pessoas, ajudando-as a mudar. Qual é o maior retorno de um profissional que fica horas em pé, dentro de uma sala de cárdio ou de força, orientando quem treina? É ouvir: ‘puxa, você mudou a minha vida!’ Essa é a recompensa.”
Para Richard Bilton, as mais recentes conquistas do mercado nacional de fitness estão diretamente relacionadas aos esforções da ACAD Brasil e mostram o quanto o associativismo é fundamental para o desenvolvimento deste setor.
“Se não fosse a ACAD, as conquistas no Congresso Nacional e no Ministério da Saúde não seriam uma realidade. Independentemente do modelo de negócio de sua academia, seja low cost, full servisse, boutique, de nicho, high end, middle market, estamos todos no mesmo barco. Se cada empresário ficar pensando e agindo individualmente, o setor não vai avançar. É preciso ter o espírito coletivo, de setor, percebendo o que é bom e ruim para todo mundo. A única forma de ganharmos representatividade e vencer batalhas, como a que estamos lutando na Reforma Tributária, é com todo mundo junto. Por isso, é tão importante se associar”, concluiu Richard Bilton.
Melhores momentos!